Exposição à Federação Portuguesa de Andebol

Na defesa dos direitos e interesses dos clubes formadores, como o CD Mafra, a secção de Andebol, no dia 30 de dezembro de 2024, enviou a seguinte exposição à Federação de Andebol de Portugal.

 

Orgulho e Preconceito - A realidade do andebol na Grande Lisboa vista a partir de um clube formador

 

Exemplo 1:

Na época desportiva 23/24, as SUB-16 femininas do CD Mafra tiveram uma prestação (a nosso ver) extraordinária, com 18 vitórias, 1 empate e 13 derrotas, numa equipa onde apenas 4 atletas eram do escalão; as demais eram todas SUB-14, todas atletas formadas em Mafra, algumas já com 5 épocas de prática.

As nossas expectativas para SUB-16 femininas na época 24/25 eram altíssimas. O que aconteceu? Vieram Sporting, e, depois, o Benfica, e levaram 6 atletas. Hoje o CD Mafra não tem capacidade para competir no escalão feminino de SUB-16.

Este exemplo serve para ilustrar o que acontece todas as épocas a equipas ditas “menores” da Associação de Andebol de Lisboa. Com todo o nosso empenho, pegamos nestes rapazes e raparigas no primeiro ciclo, apresentamos a modalidade, cativamo-los para a mesma, entusiasmamo-los e, quatro, cinco épocas depois, quando os resultados começam a surgir, surgem também os “tubarões” com promessas e teorias, colocando dilemas tremendos sobre os pais (“esta é a última oportunidade do rapaz!”, “ele está a perder o comboio!”), e “secando” novamente as nossas promissoras equipas.

 

Exemplo 2:

A equipa masculina de SUB-16 do CD Mafra é, esta época, constituída por 8 atletas do escalão, sendo, por razões óbvias, reforçada por 5 atletas SUB-14. Porquê tão poucos? A resposta é simples: neste momento, há 5 atletas SUB-16 (quase uma equipa inteira) que passaram pela formação do CD Mafra a representar os ditos “grandes”: 1 no Belenenses, 2 no Benfica e 2 no Sporting.

 

Analisemos a atual composição dos SUB-16 destas equipas:

  • O Sporting tem 34 atletas inscritos no escalão (15 formados - 1.ª inscrição no clube): competindo com 2 equipas (19 atletas vieram de outros clubes);
  • O Belenenses tem 24 atletas inscritos (15 formados - 1.ª inscrição no clube): competindo com 2 equipas (9 atletas vieram de outros clubes);
  • O Benfica tem 14 atletas inscritos (2 formados - 1.ª inscrição no clube): competindo com 1 equipa (12 atletas vieram de outros clubes).

A equipa SUB-16 masculina do CD Mafra, esta época, já sofreu derrotas muito duras contra o Sporting B e o Benfica. As desigualdades são muito significativas e isso é compreensível, tendo em conta as apostas que esses clubes, com os recursos que têm, conseguem fazer na modalidade (havendo abordagens muito distintas: sendo de destacar que o Sporting forma atletas desde os minis (SUB-12); o Belenenses desde os SUB-14; e o Benfica desde os SUB-16). O grande desafio para clubes “menores”, como o CD Mafra, passa pela retenção de talento, pois mal um rapaz ou rapariga dá nas vistas, logo um destes clubes se posiciona para os convencer de que devem mudar para um desses clubes de Lisboa.

 

Exposição:

Esta situação acontece todas as épocas, mas, mais recentemente, começou a ser feita, sem qualquer preocupação ética e deontológica por parte dos dirigentes dos ditos “clubes grandes”, muito mais cedo, tendo sido flagrante quando, a meio da época passada, o Sporting começou a aliciar atletas federadas SUB-14 e SUB-16 femininas.

Já na corrente época, volta a repetir-se quando, no início de dezembro (apenas dois meses após o início da competição), temos um atleta SUB-14 federado pelo CD Mafra (connosco desde os 8 anos) a ser altamente pressionado para se mudar desde já para Alvalade.

 

Temos um orgulho imenso nos mais de 20 rapazes e raparigas que, tendo passado pela nossa formação, hoje representam outros clubes, como é o caso do Benfica (8 atletas), do Sporting (7 atletas) ou do Belenenses (4 atletas), mas entristece-nos muito o preconceito com que estes grandes clubes nos tratam (ao CD Mafra e a tantos outros clubes formadores), não cumprindo as mais básicas regras de códigos de ética desportiva, aliciando de forma inaceitável atletas e respetivos pais no sentido de “sacar” mais um potencial talento da modalidade.

 

Como é possível um clube como o CD Mafra, carregado de esforço e sacrifício diário de uma estrutura amadora e voluntária, ser permanentemente “saqueado” dos seus mais promissores talentos sem qualquer compensação?

Como é possível uma Federação e uma Associação compactuarem com estas erróneas práticas e não protegerem os verdadeiros clubes formadores?

 

Como explicamos a estes (muito) jovens atletas e seus pais que talvez o melhor seja esperar mais uma ou duas épocas, deixá-los evoluir na sua comunidade, sem sacrificarem tempo de estudo, tempo de lazer, tempo de família para viagens infindáveis para locais de treino sempre distintos, em horários e dias incertos, só porque um dito “grande” os convidou? Para depois, na maioria dos casos, acabarem por jogar poucos minutos, nas equipas B e C, e fora das suas posições de formação?

 

Temos um tremendo orgulho nos dois rapazes da nossa formação que, o ano passado, foram Campeões Nacionais pelo Sporting em dois escalões, mas entristece-nos ver que, da equipa de SUB-20 campeã nacional, nenhum atleta chegou verdadeiramente à equipa principal do Sporting. A esmagadora maioria foi dispensada para outros clubes, pois uma nova “fornada” de talento criado fora do clube vinha a caminho. (O Campeão Nacional em título não tem um único atleta sénior formado desde a primeira inscrição no próprio clube).

 

Com esta exposição, para além de mais uma vez denunciarmos, a nosso ver, estas erróneas práticas, vimos solicitar que sejam instituídos verdadeiros mecanismos de proteção e respeito por quem forma todos os dias homens e mulheres, não com propósitos meramente competitivos e mercantilistas, mas com verdadeiro foco na comunidade e nos valores do civismo e da cidadania.

 

A continuarem a ser permitidas práticas, que consideramos lesivas para a modalidade, o que se pretende:

  • Acabar com os clubes formadores?
  • Reduzir a competição aos ditos grandes e suas equipas B, C e ...?
  • Focar a formação exclusivamente nos resultados desportivos e colocar em segundo (terceiro) plano toda a dimensão social e educacional da prática desportiva?

 

Terminemos com o preconceito relativo aos verdadeiros clubes formadores, terminemos com as penalizações mascaradas (como é o caso dos acrescidos custos das arbitragens para clubes mais distantes) e haja orgulho e reconhecimento deste incrível trabalho que clubes como o CD Mafra, o 1º de Dezembro, o Passos Manuel, o Cacém, o Oriental, o Odivelas, a Assomada, o Porto Salvo, o Almada, o Camões, o Alverca, o Colégio São João de Brito, o Esfera, o Boa Hora, o Estrela da Amadora, o Bairro Janeiro, o Sassoeiros, e tantos, tantos outros estão a fazer.

 

Atente-se nas camisolas de formação dos nossos atletas seniores (masculinos e femininos) representantes de Portugal nas Seleções Nacionais, onde há apenas um exemplo de atleta com origem nos ditos “clubes grandes”, apelando-se assim a que se criem efetivos mecanismos de proteção, valorização e apoio aos verdadeiros clubes formadores.

 

 A Secção de Andebol do CD Mafra

Um website emjogo.pt